* Márcio Alexandre
Há dois princípios/valores sob os quais se deve exercer o jornalismo: isenção e imparcialidade. Para muitos, eles devem ser inafastáveis da prática do ofício de informar. Para outros, tratam-se de mera utopia. De qualquer forma, eles não são absolutos porque há, entre as muitas formas de escrita jornalística, o jornalismo de opinião. Nessa seara, difícil se opinar sem que se faça opção por uma tese, um lado, um caminho, uma forma, um nome, uma proposta.
Nos dias atuais, de vésperas de votação para escolha dos futuros presidente, governador, senador e deputados estaduais e federais, tem aumentado, quase diariamente, o número de pessoas escrevendo sob o manto da isenção. Invocando a tal imparcialidade.
Dos exemplos que temos visto, a imparcialidade invocada deixa subtendida uma escolha já definida. A senha quase sempre é a mesma: vivemos uma era de extremos. E de fato, vivemos. Falta honestidade a muitos para pontar quais são os polos extremados.
Há sim dois extremos. Há um lado defendendo bibliotecas e um outro optando por clubes de tiro. Há um lado defendendo a ciência e um outro apelando para a ignorância. Há um lado querendo que todos tenham o que comer e um outro governando apenas para os ricos. Há um lado cultivando a paz e um outro plantando ódio. Há um lado respeitando as diferenças e um outro querendo dizimar os diferentes. Há um lado clamando pelo diálogo e um outro mandando metralhar adversários. Há um lado se protegendo para não morrer e um outro protegendo quem mata.
Há um lado mostrando verdades e um outro optando pela mentira. Para enganar, para ludibriar, para falsear, para ganhar desonestamente. Como só o tinhoso sabe fazer.
Se alguém próximo a você fizer o debate político sem pontuar essas questões, necessárias -, vitais, fundamentais, imprescindíveis -, não haverá dúvida de que lado esse alguém está.
A escolha que se vai fazer no próximo domingo, há tempos deixou de ser uma mera definição de nomes para ser uma necessidade de propósitos. Será escolher entre democracia e ditadura. Entre fome e fartura. Entre paz e guerra. Entre civilização e barbárie. Entre esperança e desespero. Entre harmonia e ameaças. Às pessoas, à democracia, às instituições. Ao futuro.
A isenção é necessária. A imparcialidade é importante. Invocá-las, nesse instante, em nome de uma suposta neutralidade, é fazer clara opção pelo caos. Já morreu gente demais por causa da omissão. Se omitir, agora, é ser também responsável por toda a sorte de maldades que continuará sob o país. Optar por quem defende a barbárie é ser cúmplice de genocida. Em tempos de exceção é preciso se questionar: isenção em nome de quê? Imparcialidade em nome de quem?
* Professor e jornalista