Morreu

por Ugmar Nogueira
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* Márcio Alexandre

 

Morreu. Dominado pelo vício, tocado pela inanição. condenado pelo abandono. Morreu. O álcool correu a esperança, a fome destruiu as carnes, mas foi o a incúria que sacramentou o seu fim.

Para muitos, a bebida o tornou um estorvo, o desemprego fê-lo um inútil, e todas as pequenas dificuldades que todos nós temos fizeram dele um insuportável.

Morreu. O corpo sucumbiu agora, a alma jazia há tempos. Perambulando, mendigando um copo de cachaça e, talvez, um prato de comida. O primeiro quase sempre aparecia. O segundo, raramente. 

Morreu. Depois de viver ao léu, de dormir ao relento, de catar comida no lixo. Morreu porque o álcool deixou de alimentar a ilusão de que ainda vivia. 

Cessou o sofrimento, mas não fará esquecer a perda, e o choro será de angústia porque esse é o gosto das lágrimas do remorso.

Morreu. Descuidado pelos filhos, rejeitado pela esposa, não sentido por velhos colegas.

 Morreu esquecido, pra todo mundo lembrar que abandono mata.

 

* Professor e jornalista

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