Márcio Alexandre

 

Poucos dias depois de ter se consolidado o percentual de reajuste do Piso Salarial Profissional Nacional do Magistério, procurei a Secretaria Municipal de Educação (SME) para saber qual o seu posicionamento sobre o tema. Perguntei, via assessor da pasta, se a secretária concordava com o índice, se concederia o reajuste e de que forma; se estava sendo feito estudo de impacto financeiro, quando convocaria o sindicato que representa os docentes para iniciar uma negociação, entre outras questões correlatas.

Passou-se um dia, e o assessor não me deu resposta. Passaram-se dois, três dias e nada. Uma semana, duas, três, e bulhufas de retorno. Mesmo que eu insistisse diariamente solicitando as respostas aos questionamentos, o rapaz, pago com dinheiro público, fingia que não era com ele. Decidiu não mais atender minhas ligações, não respondia mais minhas mensagens. “Sumiu, desapareceu, escafedeu”.

Diante do desaparecimento do assessor, e até preocupado com o seu sumiço, liguei pra a senhora secretária Hubeônia Alencar. Após a quarta tentativa, um assessor atendeu. Disse que ela estava em uma reunião e que me retornaria. Claro que não retornou. Esse segundo assessor parece ter sido contratado somente para atender a essa ligação. Nunca mais se ouviu falar nele. “Perdeu-se no oco do mundo”.

Tenho enfrentado esse calvário também quando busco informações em outras pastas. Embora a prefeitura tenha ótimos jornalistas, profissionais sérios, gente com a melhor qualificação, pessoas da mais alta reputação, parece que o principal treinamento ao chegar à gestão Allyson Bezerra (Solidariedade) foi em “se esconder”. Há demandas que apresentei há meses e ainda não obtive respostas. Em quase todas as secretarias há um questionamento que apresentei e para o qual ninguém sabe responder. Ou talvez tenha sido treinado para não saber.

Uma delas, por exemplo, diz respeito aos cargos comissionados. Quem são? Quantos são? Quanto ganham? Onde vivem? Do que se alimentam? O que sabem fazer? Qual a qualificação? Como surgiram? De onde vieram?

De forma interessante, curiosa e alvissareira, ao mesmo tempo em que alguns assessores somem num piscar de olhos, auxiliares de alto escalão aparecem num estalar de dedos, a depender da ocasião e da necessidade de a gestão espalhar suas narrativas, de fazer circular suas ilusões, de tapear os munícipes. Ontem foi um dia clássico para esse tipo de situação.

Nas redes sociais, um “progressista” espalhava uma narrativa que buscava provocar cizânia entre uma líder do sindicato dos servidores públicos municipais de Mossoró e os professores. Na TV, um “revolucionário” utilizava seu conhecimento técnico em uma determinada área para convencer que colocar 5 artigos num projeto de lei sobre a concessão do reajuste e a revogação de dois artigos no Plano de Cargos, Carreira e Remuneração (PCCR) não é mudar esse mesmo plano. Nem ele acreditou no que tentava pejar.

No YouTube, um “justo” desafiava com bravatas, ameaças, altercações. Postura típica de quem tenta impor medo. Acossar o oponente. Fragilizar uma possível reação. Não convenceu.

No início da noite, uma “defensora dos direitos do servidor público” surrava a verdade sem dó numa entrevista no rádio. Preposta do prefeito na secretaria da Educação, a doutora Hubeônia Alencar disse, sem bater pestanas que, pasmem, algumas obras nas escolas municipais estão paradas porque a prefeitura de Mossoró está utilizando o dinheiro para pagar o reajuste docente.

Não há mentira mais deslavada, versão mais cínica, narrativa mais ordinária do que essa. Primeiro que não se pagou um reajuste de piso a ninguém. E não vou fazer desafio em contrário porque esse tipo de proposta soa muito mais como amedrontamento metrequefe do que com desejo de repor a verdade.

Segundo que há tempos que há problemas em quase todas as escolas. Do José Benjamim ao Deusdete Cecílio. Do centro à zona urbana. Da Gerência de Planejamento ao Departamento de Transportes.

De público, pergunto à secretária: por que os gêneros alimentícios da merenda escolar de origem animal estão sendo transportados em malas de carros comuns e não no caminhão-baú adequado para esse tipo de transporte? Como a senhora talvez não saiba, vou responder: porque o citado veículo ainda está com o pagamento do emplacamento atrasado.

Por que, doutora Hubeônia, quatro escolas tiveram o fornecimento de energia elétrica cortado? Como a senhora pode ter esquecido, vou lembrar. Também por falta de pagamento.

Por que não há dinheiro para terminar as obras das escolas, para pagar o emplacamento do carro, para quitar a fatura de luz dos prédios públicos, mesmo o prefeito tendo conseguido aprovar o remanejamento do dinheiro arrecadado com a Contribuição da Iluminação Pública (CIP), e embora a Câmara tenha aprovado crédito suplementar de R$ 183 milhões para custear o reajuste e apenas R$ 40 milhões serão utilizados para esse fim, só uma pessoa pode responder. Essa é uma verdade que só sabe quem está induzindo a senhora a mentir.

Espero, ao final do dia, ter vergonha pelo que escrevi aqui, e mesmo assim ri, quando esses respeitáveis homens e mulheres declararem em suas redes sociais, ou nos órgãos de imprensa que os convocam sempre que a gestão precisa dizer o que só a ela interessa, que tudo o que foi dito ontem não passava de uma brincadeirinha de primeiro de abril. É a única salvação para que não deixem secar em suas vistosas biografias tão enlameadas mentiras.

* Professor da rede municipal de ensino de Mossoró e jornalista

(Ilustração: BBC.com)

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