* Márcio Alexandre
Avenida cheia. Não era o tanto que se pretendia, mas é um número que mete medo. Porque são muitos em torno de uma ideia caótica, catastrófica, desumana, desinteligente. Que normaliza o crime e banaliza a tragédia.
Também mete medo pelo automatismo. A mesma incoerência no dizer. A mesma inconsistência no defender o indefensável. A mesma cantilena cruel e nefasta em busca da barbárie. O mesmo desejo de autoritarismo, tortura e morte.
São milhares na rua. Corpos insepultos. Gente vazia, triste, decrépita. Expressões opacas e ânsia por terror. Angustiante, apavorante, agoniante.
Homens e mulheres desprovidos de bons sentimentos. Ocos de referências salutares.
Num abismo de insensatez. Olhar bovino a caminho do abate sem questionar.
Queimando suas biografias. Expondo seus semelhantes. Envergonhando seus familiares.
Subvertendo a ordem, manchando a História, entristecendo nossa memória.
Raivosos e coléricos numa histeria vergonhosa e aterrorizante. Em busca do caos. Para jogar no lixo o que conquistamos ao custo de vidas, sangue, suor e lágrimas.
Liderados pelo inominável, numa catarse coletiva doentia e perigosa. Gente disposta a matar e a morrer por um celerado, um criminoso contumaz, um bandido indisfarçável. Um tirano querendo construir um holocausto para chamar de seu. O horror em forma de gente (?).
* Professor e jornalista