* Márcio Alexandre
Mossoró vive sob a mesma narrativa que impera sobre o golpe que tentaram dar em 8 de janeiro de 2023.
Tudo foi feito para que o ex-presidente golpista voltasse ao poder. Tudo que acontecia o beneficiava, mas, claro, ele sempre negou que tivesse qualquer coisa a ver com o terrorismo que tomava conta do país com o propósito de garanti-lo de volta ao Palácio do Planalto.
Por aqui, tudo acontece com o objetivo de que Allyson Bezerra, o ditador que se diz prefeito, se eleja governador. Na lógica eleitoral brasileira, é importante lembrar que muitas vezes, o eleitor vai às urnas apenas legitimar aquilo que já está posto.
Vem acontecendo desse jeito. Allyson não administra Mossoró. Ele usa a estrutura pública a seu favor. Para fingir serviço, oferece migalhas à população. Ampliadas pela lupa das redes sociais, esses restos parecem fartura.
Um exemplo. Na quinta-feira, 23/1, Allyson fez a entrega da duplicação de uma das pontes da avenida Presidente Dutra. O serviço ainda não estava – nem está – concluído. Mas era preciso criar narrativa positiva para “abafar” a canalhice que aconteceria no dia seguinte.
Na sexta-feira, 24/1, como miquinhos amestrados, vereadores da situação e até alguns que se dizem oposição, votaram a proposta de reforma administrativa do nosso ditador.
A lei excluiu o Conselho Municipal de Cultura do cronograma de políticas públicas para a Cultura, e criou escritórios de representação da cidade de Mossoró em outros municípios. Duas excrescências. Mas, mais do que isso: duas coisas ilegais. Portanto, criminosas e, nesse aspecto, essa gestão parece confortável em agir ao arrepio da lei. Ocorre que tem algo que se não é mais grave e vergonhoso, é abjeto.
Espera-se que as propostas tenham ao menos passado pelo crivo do setor jurídico do município. Pelo menos pelos advogados que ocupam cargos comissionados na gestão.
São profissionais gabaritados. Gente, por exemplo, que adora dar aula de Direito. Tanto a quem sabe e, principalmente, a quem não sabe. Pra arrotar prepotência acadêmica.
Então, com o notório saber jurídico que esses serem denotam e com tanta acuidade com que observam os erros de outrem, é chocante que não tenham visto a flagrante inconstitucionalidade dessas propostas. Só o servilismo exagerado,o vira-latismo inexplicável expliquem que tenham errado tanto. E pra beneficiar quem finge que não tem nada a ver com isso: Allyson Bezerra.
Aliás, vira-latismo talvez explique também que tanta gente boa aceite participar de uma gestão na qual não tem voz, e para a qual a única contribuição que talvez sejam capazes de dar à cidade seja assinar papéis.
Vira-latismo também pode ser aplicado à postura de um vereador estreante que, no afã de ser afagado pelo poder, chamou o povo para a briga. Desafiou quem luta por direitos para uma sessão de “bofetes”.
Um vira-latismo vergonhoso, ressalte-se, mas sobretudo, perigoso. Porque caninamente contribuindo para que a cidade afunde em dívidas em nome do projeto de poder do senhorio. Que quando todos acordarem, não seja tarde demais. Latidos após a fuga do ladrão tem pouca eficiência.
* Professor e jornalista