* Márcio Alexandre

Segunda metade dos anos 90. Estudava Pedagogia, curso que concluí com as dificuldades de conciliar estudos e trabalho na imprensa, onde jornais fechavam tarde e abriam cedo. Ela cursava Ciências Sociais. Trabalhávamos no mesmo diário.

Nosso patrão era um entusiasta da educação. Um apaixonado pelo conhecimento. Mas amava mesmo que seus filhos tivessem o melhor ensino e acessassem o maior conhecimento. Isso talvez explique o que fez contra nós.

O dono do matutino começou a criar dificuldades para que continuássemos a estudar. Instituiu horários quase “incumpríveis”. Resistíamos. Seguíamos no nosso propósito. Tínhamos a mesma percepção de mundo, a despeito de exercermos um ofício sob o qual recaía algum glamour. O jornalismo, naquela época, era uma profissão que poderia fazer desavisados se acharem mais do que realmente eram.

Eu e Izaíra Thalita seguíamos com pés no chão. Não nos iludíamos com confetes que jogavam sobre nós. Gente que nos enaltecia sempre com segundas intenções. Nossa intenção maior era aprender. Crescer profissionalmente, tanto no exercício prático do jornalismo quanto na busca por novos aprendizados.

Mesmo percebendo que não nos dobraríamos a seu capricho malfazejo, o homem seguiu com suas invencionices. Não parou em suas maléficas tentativas de nos impedir de seguir como acadêmicos. Todas malogradas.

Uma de suas jogadas mais desleais foi estabelecer um plantão diário. Teríamos que ficar pelo menos ate as 18h, mesmo que já tivéssemos entregue nossas matérias jornalísticas e até mesmo já tendo acompanhado o fechamento de nossas páginas e até das editorias.

Izaíra tinha um simpático Fusca. Um carro bem cuidado e que tinha um toca cd player. Um charme. Lembro até da playlist. Um percurso de papo cabeça e música de qualidade.

Minha colega jornalista passou então a ir direto do jornal para a faculdade. Em sua imensurável grandeza e grande sensibilidade, me ofereceu carona. Diária. Eu já morava no Nova Vida. Dependia de transporte público. Sair do jornal às 18h e estar na UERN às 19h talvez não desse tempo nem se eu tivesse um carro.

Foi assim que consegui concluir o período que me permitir ir adiante e chegar à conclusão do curso. Foi assim que percebi que os resistentes são solidários, amigos e companheiros. Foi assim que percebi em Izaíra uma amiga resistente e de parceria.

Um registro de agradecimento. Um reconhecimento aos que resistem. Sobretudo nesses tempos em que “progressistas” sucumbem se apequenando. E os resistentes se agigantam no silêncio de suas bondades. Valeu, Izaíra Thalita.

* Professor e jornalista

Nosso e-mail: redacaobocadanoite@gmail.com

 
 
 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

De Volta ao Topo