Quando os bons devem aos maus

por Ugmar Nogueira
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* Márcio Alexandre

É uma pessoa de bom coração. Quase pueril. Vez por outra entabulamos um papo. Com longos espaços de tempo entre uma conversa e outra.
Na maioria das vezes, a pauta é o que escrevo.

Me enche de elogios e responsabilidades. Diz que minha escrita tem verdade e fluidez. Argumenta que mesmo quem não gosta do conteúdo se compraz com a forma. Embora não goste do que eu escrevo tem prazer na maneira como está escrito.
Recebo os encômios com alegria e preocupação. Com um pé atrás, uma pulga na orelha e a desconfiança de quem escreve com a consciência de que escrever não é agradar, mas dizer o que precisa ser dito.
Minha experiência me deu razão. Eu estava certo em desconfiar, mesmo com o exalçamento vindo de quem tenho apreço.
Descobri que a pessoa “carimba” quase todos os meus textos. Nas redes sociais, claro, onde abunda a maldade que muita gente acha que não macula.
A pessoa sapeca um “fake news” nas minhas matérias. E ela, quem a conhece sabe, não sabe o que significa o termo. Em Inglês. Pra enganar tolos e atingir quem não se dobra.
A pessoa em questão tem um cargo numa empresa terceirizada. Está lotado num órgão onde passa mais tempo ao celular do que fazendo as atribuições que o cargo pede, mas que ninguém pede que ela faça.
Quando “a gata mia”, pra usar a expressão que significa que o pagamento- quase sempre atrasado – está sendo pago, aí é que o negócio “pia”.
É preciso rastrear, identificar, buscar, investigar, caçar, achar, uma a uma, toda e qualquer publicação que diga que um certo gestor é feio, embora ele não seja nenhum Apolo.
A pessoa segue sendo boa, embora seja obrigada a seguir gente ruim. Principalmente com poder. Pra lhe dizer o que ela pode ou não pode fazer. Pra que ela diga que algo não preste mesmo ela adorando.
Esse é o preço que se paga por um emprego dado por um político. Mesmo já tendo trabalhado por esse político para se ter esse emprego. É o preço que os bons pagam por depender dos maus. Que consiga, o mais rápido possível identificar como o mal age. Não é difícil. Não há disfarce. Um adereço sobre a cabeça não esconde quase nada.

* Professor e jornalista

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