* Márcio Alexandre
Julián Fuks sentenciou, numa deliciosa e amarga crônica, que a crônica está morrendo. É triste constatar essa tristeza.
A crônica está, inapelavelmente, morrendo. E de morte silenciosa. Que é a mais cruel. Porque não sai nos jornais. A mais medonha porque não doi em ninguém.
A crônica é o texto da minúcia do sentimento. É a conversa de quem escreve com o que vê e o que sente.
A crônica é um retrato do cotidiano com poucas palavras e nenhuma pressa.
A leitura da crônica é um compromisso de quem lê com a leveza, com a simplicidade, com a sutileza.
Lê-se como quem sorve o gole da bebida preferida. Como quem sente o cheiro da flor mais bonita. Como quem contempla a beleza de um grande monumento.
Contempla-se uma crônica com vagar. Como quem trata de algo em si mesmo.
A morte da crônica é a constatação da nossa falta de cuidados com nós mesmos. A crônica é um autotexto.
* Professor e jornalista