* Márcio Alexandre

 

O prefeito Allyson Bezerra (Solidariedade) não é bom de retórica. Pelo menos até agora não mostrou que o seja. Falastrão, sim. Eloquente, não. Fala muito, mas muitas vezes não diz nada. Não é obrigação sua falar bonito. É seu dever dizer a verdade.

A dificuldade de Allyson em estabelecer uma boa oratória talvez resida no fato dele estar sempre na defensiva. Sempre escondendo uma carta. Sempre querendo estar numa situação melhor do que seu interlocutor. E nem precisa que este seja seu adversário.

Não é apenas o absolutismo que impede Allyson de se deixar entrevistar por jornalistas que não são da sua graça. É o medo de ser confrontado. Mais que isso: de não ter argumentos para vencer o confronto dialógico. De perceber que nem todos se deixam encantar por suas bravatas rasas e sua profunda intenção de confundir.

É natural que na tentativa de se esquivar de responsabilidades e tendo apenas o parlatório como ferramenta, a verborragia traga consequências. Mais cedo ou mais tarde, elas virão. O homem se encontra com ele mesmo quando precisa resgatar sua palavra. E quando a empenha sob o signo do sagrado, o encontro ocorre mais cedo do que ele esperava.

A verdade sempre cobra a fatura. Principalmente quando se tenta fugir de fazer o certo. A hora da verdade sempre chega. E ela chegou para Allyson Bezerra.

No dia 20 passado, em entrevista ao Foro de Moscow, ao ser questionado se iria cumprir o reajuste do piso, Allyson jogou para a plateia. Mesmo dando canelada nas palavras, com chutes tortos nos argumentos e, principalmente, dando bico nas esperança dos docentes, garantiu, titubeante, vacilante e hesitante,  que respeitaria todo direito do professor.

“Então queremos dizer a todos que nós temos total boa vontade, interesse político, força política, para que nós venhamos sempre estar próximos, estar juntos dos nossos professores e garantir tudo aquilo que é direito do professor”, disse o prefeito naquela oportunidade.

Tentando convencer pelo metafísico, fez quase uma exortação: “recurso do Fundeb é sagrado”. E entabulou uma espécie de prece: “o que for do professor a ele será dado”, mas não disse a que tempo, numa clara intenção de ganhar tempo. Esperava ele que seres mitológicos fizessem desaparecer o direito. Que o percentual de reajuste do piso fosse reduzido a uma décima parte. Talvez nem isso.

Pois bem. Agora, com o presidente tendo que, inevitavelmente reconhecer que o piso sempre existiu, que a lei sempre esteve em vigor, que o direito é líquido e certo, caberá a Allyson cumprir com a palavra que empenhou consigo mesmo, com os Céus e a Terra.

Espera-se que o mal-ajambrado argumento a justificar uma resposta que a nada respondeu não tenha sido apenas conversa cavaqueira. Espera-se, e aqui peço vênia para seguir no mesmo tom linguístico-transcendental do qual Allyson fez uso na entrevista, que ele pague o piso e não blasfeme ao macular um direito que para ele é tão sagrado – e nesse ponto, concordamos. Ao prefeito, resta apenas esperar que ao fazer uso de vocábulos sacros com intenção de dar feição divina ao seu discurso, também seja grande agora para resgatar a palavra que empenhou.

Se tiver a hombridade que diz ter. Se for o homem de palavra que quer deixar transparecer. Se for o justo que quer fazer crer, Allyson inicia o mais rápido possível os encaminhamentos que o levarão resgatar sua palavra: marcar o quanto antes a audiência com o SINDISEPUM e anunciar que sim vai respeitar a lei (garantindo o reajuste do piso). Como homem de fé que é, Allyson sabe que Deus está vendo. A hora da verdade é agora.

 

* Professor e jornalista

 

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