A covid em nossa casa

por Ugmar Nogueira
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* Márcio Alexandre

 

Segunda-feira passada, minha esposa tomava um banho, tranquila, quando percebeu algo. Aliás, deixou de perceber. O olfato havia desaparecido. Era início da tarde. À noite, ao jantar, o paladar também não mais respondia. O quadro se somava a outros sintomas, como dor de cabeça, corpo pouco febril e uma pequena coriza, que incomodavam há alguns poucos dias.

Ao me informar que não sentia mais cheiro e gosto, ela estava fazendo uma constatação que soava como óbvia pelo conjunto da obra: o coronavírus a havia pegado. O exame seria algo protocolar em relação ao diagnóstico perceptível, mas importantíssimo para o isolamento, a relação com os demais membros da casa, do bairro e da cidade, e para evitar que a subnotificação siga sempre aumentando numa pandemia em que se saber os casos positivos é fundamental para controlá-la.

Num espaço familiar de 4 pessoas, das quais 3 com comorbidades, uma pessoa testar positivo para covid é um desafio e uma insegurança daquelas. E lança diversas dúvidas sobre como se deu a infecção.

Somos muito cuidadosos. No auge da pandemia, passamos 126 dias sem sequer por um pé na calçada. A feira, única vez em que alguém saía de casa, era feita por mim. Tarefa iniciada às 9h, com a chegada ao supermercado, e finalizada às 22h, quando o último item era higienizado. Produtos retirados da sacola, limpos com álcool e/ou com água e sabão, ainda com a máscara sobre o rosto.

Depois que passamos a sair de casa para atividades necessárias, o ritual inclui a troca de roupas no quintal, bem como o banho. Chinelos para uso dentro da residência e outros para idas para fora do espaço doméstico. Essas são apenas algumas das medidas do nosso protocolo de biossegurança.

Todos nós estamos imunizados com as duas doses. Para mim e Selma, a data da dose de reforço coincidiu com o período em que gripamos. Essas doses iniciais foram importantíssimas para que tivéssemos sintomas leves. Até mesmo no caso dela de diagnóstico confirmado da covid.

Por lentidão do laboratório, esperamos eu e nossos filhos por resultado dos exames. Embora não tenha qualquer sintoma, eu também me submeti ao teste. E me isolei. Assim como os demais aqui de casa. Saí apenas para médico, farmácia e clínicas laboratoriais.

A infecção confirmada de um de nós veio com surpresa, insegurança e constatações. A surpresa adveio do fato de que de nós quatro, Selma é a mais cuidadosa e a que menos sai de casa. E causou de ser ela a primeira a testar positivo.

A insegurança sobre como o vírus agiria no organismo dela deixou a todos um tanto quanto temerosos. Hoje, mesmo com os avanços que a vacina proporcionou, já voltamos a ter mil óbitos por dia. Então, a ameaça não é pequena, o vírus não é inofensivo como alguns querem fazer crer e a guerra contra ele ainda está longe de ser vencida.

As constatações são as mais óbvias possíveis. A principal delas é que vacinas – como sempre fizeram ao longo da nossa história – salvam vidas. Outra obviedade: uma doença, seja ela qual for, deve ser tratada com a atenção que a ciência exige.

Estamos nos aproximando do fim do tempo de isolamento de Selma, e de todos nós – embora ressalte-se, ainda não temos – por deficiência do laboratório, privado – diagnóstico fechado. Após esse período, faremos todos novos testes para saber da nossa situação em relação à infecção – ou não.

Saber da nossa condição e agirmos para que ela não prejudique os demais, é fundamental para que outros não sejam infectados. Viver é um pacto coletivo. Se cuidar, também.  Viva a vacina!!! Viva a ciência!! Fora, negacionistas!

 

* Professor e jornalista

 

Nosso e-mail: redacaobocadanoite@gmail.com

 

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