*  Márcio Alexandre

O futebol tem a capacidade de, em pouco tempo, lançar pessoas ao estrelato. Outras áreas da vida também. Nesse campo, os artistas da bola parecem virar celebridade com velocidade de supersônico. Dois aspectos, no entanto, precisam ser considerados.

O primeiro deles é que são poucos os que vão chegar à casa dos milhões. Tanto na conta bancária quanto na fama. O segundo é que a chegada ao topo, até pela ascensão meteórica, não permite que a maior parte desses meninos e meninas, tenha tido tempo para uma preparação. A constatação é óbvia: conseguem muito na forma (de jogar) mas no mais das vezes, o conteúdo é vazio.

A fama os coloca em evidência. Para o bem e para o mal. Estar nessa condição traz o ônus do preenchimento do ego e avolumamento da conta corrente.

Não raro, tornam-se milionários cabeças-de-vento. Inebriados pela fama, esquecem de aprender. Embriagados pelo dinheiro, abrem mão de pensar. Iludidos pelos elogios de aproveitadores, esquecem de onde vieram. Rodeados de puxa-sacos, ignoram o que foram para se iludir com o que pensam que são. Passam a viver, portanto, não em nome do que importa mas do que pode ser lucrativo. Por estarem sempre lucrando acham que tudo o que fazem deve ser aplaudido.

E passam a pensar – se é que pensam – que podem fazer tudo. A qualquer hora e em qualquer lugar. Não raro pululam denúncias de estupros, de casos extraconjugais, e de ligação com ilícitos. Para ficar apenas nessas situações mais comuns envolvendo esse mundo de bola de ouro e comportamento de lata enferrujada.

Se é bem verdade que são questões de foro íntimo, também o é que a maioria usa a intimidade como chamariz ao aumento da fama. Não dá, pois, para reclamar. Não dá para se fazer tudo e acha que é normal. Principalmente se parte – quiçá tudo – o que conseguem é construído a partir da imagem que construíram como ídolos.

Jogadores de fama internacional – por e para isso – são admirados por todo tipo de pessoa. Tanto por outros milionários, quanto por quem sequer tem uma camisa para vestir. Por muito que podem comprar um estádio de futebol e por outros que improvisam uma bola com meias. Velhas, claro.

A polêmica da vez é o indigesto episódio da carne folheada a ouro. Pura ostentação. Banalidade boba. Bobagem ostensiva. Com o dinheiro que tem, podem fazer o que fizeram. Com a história que tem e com a responsabilidade que carregam, talvez não. Durante a disputa de uma Copa do Mundo, jamais.

Os 26 jogares selecionados por Tite são depositários da fé e da esperança dos milhões de brasileiros que esperam explodir em alegria com a conquista de mais um título. Grande parte desses torcedores compõe a camada mais humilde da população. Gente que vibra a cada gol como se fosse o momento mais feliz de suas vidas. Que celebra a conquista de um título da seleção como se dele tivesse partido o chute que terminou em vitória.

Essas pessoas, em sua maioria, aceita sim, alguns deslizes dos seus ídolos, e muitos deles, (reconheçamos) tem escorregado demais. Concordam com a ostentação desmedida, a superfluidade, o deslocamento da realidade. Subconscientemente, até, concordam com essas vaidades. Mas quando o supérfluo beira o escárnio, não dá para silenciar.

Que esses jogadores conquistem mais um título. Para manter sua própria felicidade. De bolsos cheios. E para alegria de grande parte da população. Mesmo de bolsos vazios. Mas que tenham um mínimo de respeito por quem torce sem ter sequer um pão dormido para comer. Não tirem do povo a felicidade de apenas celebrar. Já tem gente sonegando coisa demais.

* Professor e jornalista

 
 
 

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