* Márcio Alexandre
Rogério Marinho (PL) é um homem grato. Pelo menos a Bolsonaro. Ele sabe que sem o dinheiro do Tratoraço não teria sido eleito. E para operar o Tratoraço, precisou ter tido acesso a Codevasf. E para operar um esquema na Codevasf, precisou ser ministro. E foi o ex-capitão que o fez ministro. E é por tudo isso que Rogério Marinho tem gratidão a Bolsonaro.
É uma gratidão tão forte, tão inabalável, tão intocável, que Rogério Marinho faz de tudo para recompensá-la. Até chorar. Ou fingir que chora. É lembrar de criminoso e as lágrimas vertem. Pateticamente, inverossivelmente.
Mas isso é de menos considerando que Marinho está abrindo mão de suas convicções em nome dessa gratidão. Abdicando de sua inteligência. Jogando fora sua dignidade. Tudo para livrar o ex-presidente de prestar contas à história.
Rogério Marinho tem mais certeza do golpe que seria dado do que 99% dos brasileiros. Porque era do governo. Porque também se beneficiaria do rompimento violento que a democracia sofreria se os criminosos tivessem obtido sucesso na empreitada golpista.
Rogério Marinho chora por Bolsonaro. Ou finge chorar, porque é difícil crer em choro de quem flerta com ditador, anda com ditador e defender ditador. Mas Rogério chora, ou finge chorar, também por ele próprio.
Porque não é só um choro de gratidão. É um choro para tentar comover. Para mobilizar quem ainda se deixa levar por teorias conspiratórias e fake news criminosas. Rogério vai continuar chorando. Sempre que lembrar que com democracia só tem cargo eletivo quem o povo escolher. Quanto mais chora – ou finge chorar, senador faz jus ao título de Rogério Golpinho. Talvez queira mudar para Rogério Chorinho.
Rogério Marinho chora, ou finge chorar, porque sabe que não será difícil ser ele também enredado na trama golpista.
O problema maior não é Rogério Marinho chorar ou fingir que chora. O problema é que para Rogério Marinho sorrir a democracia precisar sangrar e quedar morta. Por isso que o choro de Rogério Marinho “parece tristeza,” mas é só escárnio.
* Professor e jornalista
Foto Roque de Sá/Senado