* Márcio Alexandre

Asdrúbal tem quase 50 anos. João Romão está perto dos 30. Ambos são funcionários de uma mesma empresa e trabalham em departamentos diferentes que funcionam quase no mesmo espaço.
O primeiro é católico. Tem 3 filhos, e uma experiência de vida acumulada pelos muitos ofícios que realizou e pelas diversas relações que estabeleceu.

O segundo também é casado e tem dois filhos. Tem mais de uma década de vivência no pentecostalismo. Ambos tem diploma de nível superior. João Romão sempre mostrou-se calmo. Aparentemente tranquilo. Visivelmente do bem.

Asdrúbal é crítico do regime ditatorial do governo do país deles. Uma República de bananas governada por narcomilicianos. Governo elitista, corrupto e eugenista.

Ao governar para a elite, distrai os seguidores matando pobres. A corrupção ele disfarça ameaçando as instituições. Inclusive aquelas que deveriam puni-lo por fazer apologia ao nazismo e a torturadores. Por estimular a criminalidade.

João Romão vê cristianismo nas atrocidades do presidente, um homem de muitas caras, algumas religiões e nenhuma fé. Enxerga Jesus na face dele, mesmo que o seu mito apoie a tortura, defenda exterminação de adversários e imite pessoas morrendo sem ar. Um sádico.

Embora tenha conhecimento da lei e faça alguns trabalhos na área penal, João Romão fica em êxtase quando operações policiais matam inocentes. Para ele, ter atingido, entre dezenas de vítimas fatais, dois ou três, supostos acusados de crime, compensa a escalada mortífera presidencial. Esqueceu, inclusive, de uma máxima penal importante de que mais vale deixar um acusado solto que um inocente preso.

Nas defesas das barbaridades de quem idolatra, João Romão vai demonstrando que também é perverso. Que é capaz de macular no silêncio, de machucar regojizando-se com a dor alheia, de prejudicar em nome de uma suposta fé. Pelo Cristiano que diz seguir, João Romão é capaz de matar com sorriso nos olhos.

Na empresa, é consenso de que a postura de João Romão mais causa medo do que segurança. De que ele não é calmo, é frio. Asdrúbal pediu transferência do setor. Quer distância desse povo que vê Cristo no rosto de quem deleita-se com a morte.

Imagem: site www.medium.com.

* Professor e jornalista

 

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