* Márcio Alexandre

Homeschooling, não vamos perder de vista, é uma excrescência. Tirar da sala de aula quem não tem outra chance para aprender, deveria ser, no mínimo,  uma contravenção penal.

Essa tal “educação doméstica” não é só a negação da escola institucionalizada, sistêmica, organizada, estruturada. É uma tentativa de esconder os pecados que os falsos moralistas teimam em cometer.

Impedir uma criança de aprender em outros espaços fora do ambiente doméstico é uma agressão. À criança, à aprendizagem, à sociedade. É um acinte à inteligência. Um abuso ao bom senso.

Quando uma criança deixa de ir à escola perdem todos. Ela própria, por tudo o que o espaço escolar pode lhes oferecer e oferece. Perdem seus colegas, por se ter uma colega a menos, um universo a menos. Um mundo a menos.

Perdem os professores. Cada aluno é um ser diferente. Um ser especial. Único. A diversidade que a presença de cada um representa é fundamental para a escola. Para a sala de aula. Para o exercício docente.

A educação, está garantido na Constituição Federal, é um direito da criança e dever do Estado e da família, e deve ser oferecido em parceria com a sociedade.

Quando se fala em direito, significa dizer que qualquer tentativa de diminuir a importância e a necessidade e de uma pessoa de aprender em espaços institucionalizados, se está ferindo a Carta Magna.

Quando se diz que é dever do Estado, significa dizer que ele não deve se imiscuir dessa responsabilidade. É a ele que cabe garantir as condições para que o direito à educação seja concretizado para que a ela todos os que quiserem tenham acesso.

O dever da família está consignado em sua obrigação de matricular crianças e adolescentes. Em cuidar para que elas frequentem a escola diariamente. Em acompanhar o que fazem em sala de aula. Em orientar a que realizem as tarefas escolares diárias.

Pois bem, a experiência prática que se tem é que são muitas as famílias que não conseguem dar conta dessas atribuições. Muitos sequer tem como matriculá-las. São pais e mães lutando para garantir o pão na mesa e o caderno na mochila. Pessoas que ganham pouco obrigadas a estender horários de trabalho em busca de um extra para a cobertura dos gastos domésticos. Qual tempo sobra para ser a parceria necessária? Para muitas, nenhum.

Regulamentar a desobrigação das famílias de manter as crianças na escola é uma violência. É, talvez, uma tentativa de evitar que as crianças e adolescentes tenham acesso a um dos poucos locais em que se sentem seguras. Para aprender. Para fazer amizades. Para denunciar. Agressões, abusos, negligências.

Querer manter em casa quem precisa estar na escola pode ser um desejo apenas de quem se sevicia da inocência dos pequenos. Falsos moralistas. O homeschooling pode significar, para alguns, um projeto de lascívia.

* Professor e jornalista

Nosso e-mail: redacaobocadanoite@gmail.com

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