* Márcio Alexandre
Num curso o professor, ateu, ficou feliz quando o aluno disse que não via pecado em quem não acreditava em Deus. O docente achava que se tratava de mais um não-crente.
O estudante, ante a indisfarçável alegria do mestre com sua declaração, ressaltou de chofre: – Eu creio em Deus. E, repito, não acho que não crê seja pecado. Peca quem blasfema. Quem não crê apenas tem pouca fé”, fez questão de reforçar.
Na sua cabeça, tudo é criação e permissão divina. Não entende, porém, que haja mitigação ao usufruto de tudo aquilo que o satisfaz sem que isso prejudique quem quer que seja.
Essas referências me vieram à mente com dois registros de perdas. A primeira de um mossoroense. A segunda de um ídolo do futebol. Nos dois casos, li relatos os mais diversos de fatos que os envolveram. De situações as mais diferentes. De coisas as mais imagináveis.
Percebi nas manifestações das pessoas sobre as duas perdas o quanto o que viveram – de perto e de longe – com as pessoas que estão partindo marcou suas vidas, talhou suas memórias e foram primordiais para que vivessem o que vivem, pensassem o que pensam e , especialmente, sentissem o que sentem.
Imagino, retomando a reflexão inicial se a ideia de pecar tivesse impedido algumas das vivências relatadas pelos amigos do mossoroense e do ídolo. As lembranças talvez fossem apenas de lamentos. Muitas vezes, pecado é não se permitir.
* Professor e jornalista