* Márcio Alexandre

Celeridade, o brasileiro já sabe, não é uma das grandes virtudes do serviço público. O seguir de ritos, o respeito à lei e a dificuldade de funcionamento de certas engrenagens fazem com que muitas coisas demorem a se resolvidas na esfera pública.
Não sem razão, fichas para atendimento médico demoram a ser distribuídas, exames passam meses para ser autorizados, e quem precisa de uma cirurgia chegar a passar anos em filas de espera. Para ficar apenas nos exemplos da área da saúde.
Essas são algumas razões pelas quais o discurso de um candidato propondo agilidade na resolução de problemas, e otimização dos serviços “cai nas graças do povo”. A promessa, muitas vezes, não é cumprida. No mais das vezes, por esse “engessamento” da máquina.
Razões há, no entanto, para que a promessa se perca no vácuo do tempo por desídia do gestor, birra do administrador e/ou má vontade do gerenciador. Ou talvez existam razões que, como se convencionou dizer, que a própria razão desconhece.
Mossoró é um exemplo de como o discurso corre na velocidade de um supersônico. E as medidas são adotadas a passos de tartaruga. Quando são adotadas. Quatro exemplos mostram o quanto a gestão Allyson Bezerra (União Brasil) posterga a execução de medidas e o quanto isso tem trazido prejuízos para os mossoroenses. Alguns deles, incalculáveis.
Em agosto do ano passado, o senador Styvenson Valentim (Podemos) reclamou publicamente do prefeito Allyson Bezerra. Disse que o gestor mossoroense não teria utilizado recursos na ordem da R$ 4 milhões de uma emenda enviada por ele para a cidade. E que se tivesse aplicado, não havia apresentado a prestação de contas. E ainda fez uma ameaça. “Sem prestar conta, não perca seu tempo de ir a Brasília. Não vou mandar dinheiro e vou dizer porque”, ameaçou o senador.
Em dezembro de 2021, a deputada estadual Isolda Datas (PT) destinou, por meio de emendas, cerca de R$ 145 mil para compra de um castramóvel. Até hoje o equipamento não foi comprado. A parlamentar tentar na Justiça que o prefeito faça o uso do dinheiro no benefício indicado. Pela primeira vez na história da cidade, se busca a Justiça para que um gestor cumpra o que deveria fazer. Inclusive foi promessa de campanha de Allyson apoiar a causa animal. Como se vê, age totalmente em contrário.
As entidades que trabalham com a inclusão em Mossoró tem recebido indicação de emendas de vereadores como Tony Fernandes (Solidariedade) e Pablo Aires (PSB). O prefeito, no entanto, não libera os recursos. A Associação de Surdos de Mossoró (ASMO),por exemplo, vive sob ameaça de despejo porque o dinheiro que deveria chegar a ela não é liberada pelo gestor.
Aprovada no ano passado pela Câmara Municipal, a Lei Orçamentária Anual (LOA) tem R$ 100 mil destinados para o combate à fome.
De autoria da vereadora Marleide Cunha (PT), a emenda prevê a criação de um Projeto Piloto de Renda Básica de Cidadania, por meio do qual se destinaria dinheiro para o combate à fome. “Sugerimos até a criação de vale-alimentação. Nosso intuito é que o dinheiro chegue às pessoas que tem fome, inclusive para esses indígenas que estão em Mossoró”, explicou a parlamentar.
Além dos R$ 100 mil da emenda de Marleide, os demais vereadores também destinaram 5% de suas emendas para o combate à fome. Os recursos precisam ser utilizados até outubro próximo. Até agora, não foram aplicados. Por uma triste coincidência do destino, uma criança de 11 meses morreu desnutrida em Mossoró. Se há relação entre a demora da gestão e o fatídico evento, as autoridades que apuram o caso deverão apontar.
O relógio da gestão Allyson Bezerra parece funcionar em sentido contrário aos demais. É uma demora que nem as dificuldades comuns ao serviço público justificam.

Enquanto o tempo passa, entidades são prejudicadas, animais são abandonados e até pessoas morrem.

 

Imagem: Getty Image

* Professor e jornalista

 

 
 
 

One thought on “O tempo da gestão Allyson e as perdas dos mossoroenses

  1. Porém no mundo azul, tudo as mil maravilhas. As caras mídias, tentam enganar a população e mostra algo que só existe nas mentes doentias de mentiras.

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