* Márcio Alexandre
O futuro ex-vereador Lamarque Oliveira (PSC) fez, no dia 21 de setembro do ano passado, um discurso inflamado na tribuna da Câmara Municipal de Mossoró.
Com muito arroubo e pouca retórica, desancou a imprensa de Mossoró. Chamou-a de fajuta. Acusou-a de ser paga pela oposição para atacar o governismo. E disse com todas as letras que a imprensa mossoroense vivia de fake news.
Em seu pronunciamento, Lamarque foi de tudo. Menos sensato. Nunca coerente. E, agora, se descobriu, jamais verdadeiro.
Ao chamar genericamente a imprensa de fajuta, o ainda parlamentar atingiu até quem presta serviços ao governismo.
Fajuto, como deve saber Lamarque, é aquilo que é de má qualidade. Quem não cumpre com eficiência o seu papel. Um exemplo: um vereador que não cumpre sua função constitucional de fiscalizar o Executivo. Se em Mossoró tivéssemos um parlamentar assim, poderíamos chamá-lo de fajuto.
Ao dizer que a imprensa é paga para atacar a gestão municipal, poderia incorrer o vereador em ato falho. Paga ou não, a imensa parte da imprensa local tem como principal divertimento defender o governo Allyson (Solidariedade). Parte dela se deixa até se distrair pelo Executivo enquanto o Legislativo aprova tudo o que interessa ao Palácio da Resistência, como aconteceu na última quarta-feira, 17/5, com o empréstimo-reeleição.
Quanto às fake news, devo concordar com o futuro ex-parlamentar: há sim alguns dos colegas que vez por outra caem em tentação e publicam informações sem checar.
Geralmente são tentados a isso por parlamentares chegados a um golpismo e a um moralismo de ocasião. A típica galera que adora a democracia para chegar ao poder e que se junta aos poderosos para acabar com o regime democrático. Como – ainda- vereador atento que é, Lamarque deve conhecer esses tipos. Que não se deixe fotografar ao lado deles.
O futuro ex-parlamentar usou seu vernáculo de ataques inconformado porque parte da imprensa que ainda tem consciência do seu papel, denunciava um papelão do seu colega de Casa.
O vereador Raério Araújo (PSD) todos sabem, é um paladino da moral e da legalidade. O que Raério não quer que ninguém saiba é que tem ele duas filhas com cargos na prefeitura de Mossoró. O Ministério Público soube. E fez a imprensa saber. Parte dela tornou o fato público. Isso fez Lamarque perder a compostura e dizer o que disse.
Ao mesmo tempo em que defendia o indefensável, enfrentava Lamarque um processo que o ameaçava de perder o mandato.
O Ministério Público Eleitoral via crime na nominata organizada por Lamarque. A Justiça de primeiro grau também. A chapa era, para o Judiciário, mais do que fajuta. Era uma fraude. Um embuste. Uma enganação. Mas que não conseguiu enganar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que a cassou, fazendo minar o mandato de Lamarque, é com o qual ele acusou sem provas e atacou sem razão. Fajuta mesmo, disse o TSE em última decisão, era a chapa de Lamarque.
O vereador poderá virar o jogo. É uma hipótese muito difícil, mas possível. Que não vire as costas para os fatos.
Vai pelo menos um pedido de desculpas aí, vereador?
* Professor e jornalista