Por Márcio Alexandre
Especial para o Blog Na Boca da Noite
Antônia Francisca vem percebendo que há tempos os preços dos produtos, principalmente nos supermercados – onde faz compras com maior frequência – estão sempre aumentando. Apesar de quase já estar acostumada com essa triste nova realidade, tomou um susto quando, ao fazer a feira, no último dia 20 de setembro, viu que o preço de um pacote de café de 250 gramas, que em 21 de agosto tinha custado R$ 4,70, estava agora por 6,50.
“Absurdo um aumento desses”, reclamou ao Blog Boca da Noite. Além da reclamação, Antônia Francisca ficou com um grande questionamento a lhe acompanhar: por que a inflação anunciada pelo governo federal é de menos de 1% a cada mês se os valores das mercadorias são cada vez mais elevados?
Exemplo disso é que embora os combustíveis venham tendo aumentos frequentes em seus valores, a inflação acumulada nos últimos 12 meses não chegou a 10%, segundo percentual divulgado pelo governo. Apesar disso, o índice de 9,68% registrado em agosto foi o maior dos últimos 21 anos.
Para responder a essas e outras questões que rondam o imaginário dos trabalhadores e trabalhadoras, o Blog Na Boca da Noite conversou Lilian Arruda Marques, técnica do Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas Econômicas (Dieese). Para entender, entre outras coisas, porque os índices inflacionários se mantém nesses patamares já que alguns produtos já subiram mais de 30%.
De acordo com Lilian Arruda, para compreender as nuances relacionadas à inflação é necessário entender como ela se constitui. “A inflação é medida com milhares de preços, milhares de produtos, que são verificados mensalmente. É importante ressaltar inicialmente que a pesquisa não é realizada em todas as capitais”, pontua.
Dessa forma, Lilian explica que se para a aferir a inflação são contados os preços de vários produtos e que a pesquisa não é feita em todos os lugares, há dois elementos importantes a serem considerados. “É possível, por exemplo, que alguns dos produtos pesquisados em determinados locais estejam em queda e isso contribui para que os índices inflacionários divulgados para todos não sejam tão elevados”, destaca.
Então, o que se tem, acrescenta, no Índice Geral de Inflação, é uma média da pesquise de preços de todas as cidades. “Quando a gente olha o dado por capital a gente vê que tem uma variação muito grande da inflação entre elas por causa das variantes, como a população, por exemplo. São Paulo tem um peso maior, por exemplo, que Recife e Salvador, porque só São Paulo tem 13 milhões de habitantes”, frisa.
Como a pesquisa se realiza em vários lugares, em um deles o preço de um determinado produto pode estar caindo e noutro pode estar subindo. Isso explica em parte, o explica o fato de que para a maioria das pessoas a percepção é de que tudo está tendo aumento nos preços, mas no índice divulgado isso não está representado. “Uma exceção é a gasolina, que tem subido em todos os lugares”, acrescenta.
Por setores pesquisados, há alguns, como a educação, que o custo ficou mais baixo, enquanto que outros, como habitação e alimentação, subiram mais que a média. “Educação tem um peso significativo na definição do percentual inflacionário. Mas é importante sempre lembrar que o índice divulgado é uma ponderação de todos os preços. Gasolina pesa muito para quem tem automóvel”.
A despeito de toda essa engenharia utilizada para a definição do índice inflacionário, já há uma grande constatação: a inflação está maior para os mais pobres. Especialistas avaliam que para a parcela mais humilde da população, ela já está acima de 10%.
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Se fizermos um comparativo com os mesmos produtos comprados a três meses atrás, iremos encontrar alguns com reajustes acima de 15%, e o governo sempre anunciando uma inflação abaixo dos 10%.