* Por Márcio Alexandre

 

O termo bullying surgiu a partir do vocabulário inglês bully, valentão. O valentão é o indivíduo que, a partir apenas de suas referências pessoais, considera-se detentor da verdade. E só a verdade dele é a que importa. Ela é irrefutável. Não pode ser confrontada com nenhum outro ponto de vista.

A verdade do valentão não é fundamentada em nenhum argumento, princípio ou paradigma. É apenas a vontade dele de que o que ele pensa e defende valha como premissa universal.

Na Câmara Municipal de Mossoró ninguém encarna, em atos e palavras, a figura do valentão de forma tão fidedigna como o vereador Raério Araújo (PSD).

Se ele erra, ninguém tem o direito de criticá-lo porque em seu universo tacanho e finito, erro não faz parte do vocabulário.

Se alguém discorda dele, não há conversa mínima porque impossível estabelecer dialogia quando os dialetos dos falantes não são os mesmos. Sobretudo quando os atos de volição são antagônicos. O linguajar de Raério só tem espaço para impropérios, bravatas e ameaças. Impossível argumentar sob a pressão de uma metralhadora sob nossas cabeças. Seja de bala ou de palavras.

E a fama de Raério tem se espalhado. Há colegas que se recusam a ouvir a versão do vereador sobre fatos relacionados a ele. Temem ser destratados. Há até quem tenha medo.

Raério parece ter atingido o auge hoje. Deselegante, misógino, machista, para dizer o mínimo, comparou a colega Marleide Cunha (PT) a uma cachorra. “Não tenho medo de ninguém, principalmente da senhora. Pode gritar, latir, que não tenho medo”, disse a Marleide.

E para quê? Pra defender o prefeito por um erro que este cometeu. Allyson Bezerra (Solidariedade), como se sabe, ocupou um espaço de cirurgia ginecológica para fazer uma live. Errou, errou e errou. Por mais que não admita. Mesmo que Raério não queira que falem sobre o tal erro.

Como legislador, Raério deveria ter consciência do peso de suas palavras. Deveria saber o quanto comentários machistas e preconceituosos tem o condão de estimular violência. E esta, de levar a feminicídio, essa praga que merece o repúdio de todos, mas que segue ignorado por muitos, especialmente por valentões.

Já passou da hora de Raério agir como parlamentar. A palavra é um grande instrumento a esse favor, desde que com ela se construam argumentos. “A palavra é uma arma que pode ser bem ou mal usada. A culpa do crime nunca é da faca”, há anos nos ensina Eduardo Galeano.

Em qualquer debate digno desse nome quem grita são os argumentos e nem precisam ser enunciados a plenos pulmões.

No parlamento, não se convence com bravatas nem se conquista com ameaças. Não se impõe com intimidações, nem se brilha com xingamentos.

Aliás, lamentável que um vereador seja protagonista de tão indecoroso episódio. Mais triste ainda que tenha acontecido no parlamento. Mais horrendo ainda que tenha sido no plenário. Mais condenável ainda que tenha sido contra uma mulher.

Essa análise comporta as variadas percepções que cada um, com seu lugar, suas referências e sua visão de mundo e do fato em epígrafe, possa construir. Ela não tem pretensão de ser verdade absoluta. Mas tem a absoluta pretensão de denunciar a violência, o desrespeito, o preconceito, a misoginia e o machismo encarnados por Raério.

À sociedade, o meu desejo de que repudie tamanha barbárie. A Marleide, minha solidariedade. A Raério, que aprenda. A valentia não é só demodê. É um estímulo ao crime. Quando ela própria não o é.

 

* Professor e jornalista

 

Nosso e-mail: redacaobocadanoite@gmail.com

 

6 thoughts on “Raério Araújo apequena o Legislativo com bravata bufa e violência sexista

  1. Que nível! Mossoró merece melhores representantes. Professor e jornalista, Márcio Alexandre, você me representa. Deixo a nossa solidariedade à vereadora professora Marleide Cunha.

  2. Quero parabenizar o professor e jornalista Márcio Alexandre pelo corajoso artigo. A violência verbal ou a que está implícita nas entrelinhas do que foi dito se constituem na maior agressão a que uma mulher é submetida! Não podemos aceitar, enquanto seres humanos, tal afronta!
    Minha solidariedade a Marleide: vereadora, professora, mãe e ser humano digno de respeito!

  3. Esse crápula deve ser adepto do missogeno. Maior , portanto será necessário uma ação penal contra esse desrespeitoso.

  4. A melhor maneira de lutar contra a valentia do valentão é usando uma arma que ele não sabe usar, os argumentos e a inteligência. Isso Márcio Alexandre fez muito bem. As pessoas acham que bullying só corre com crianças e adolescentes, talvez por esperar que em outra fase da vida o valentão já teria “amadurecido”.

    Esse artigo esclarece por que o vereador agiu com tanto desrespeito, isso é uma prova que ele está acostumado a ameaçar e amedrontar, como um cachorro faz quando está bravo. “Quem disso usa disso cuida”, por isso chamou uma das melhores representantes de Mossoró na Câmara de vereadores (Marleide Cunha) de cachorra, prova de que não consegue compreender que argumentar não é ameaçar, que a palavra “medo” usada dessa forma e dentro de um parlamento, reflete muito sobre sua conduta. E nós, mossoroense arretados, sabemos que é comum ter medo quando algo não está certo ou nos ameaça.

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